O sonho da pequena cidade
Essa é uma newsletter pra ler com a letra da música Ska (Herbert Vianna) na cabeça.
“A vida não é filme você não entendeu, ninguém foi a seu quarto quando escureceu"...
Depois da minha incursão pelos absurdos românticos de duas séries turcas (e da beleza do ator Ibrahim Çelikkol - deem um Google aí), voltei pras séries bucólicas com a segunda temporada de Doces Magnólias - novelinha que acompanha a vida de 3 amigas na pequena cidade de Serenity, disponível na Netflix.
Gosto de histórias que se passam em pequenas cidades. Mais do que das histórias em si, gosto de observar aquela vida bucólica, que me leva a pensar em como será viver em um lugar tranquilo, onde todas as pessoas se conhecem e a vida comunitária parece ter um papel central, maior do que as necessidades individuais de cada um.
Mesmo tendo crescido no interior de São Paulo, nunca vivi nada parecido com isso. Franca não é tão pequena e muito menos bucólica. Hoje, são quase 360 mil habitantes. E mesmo quando a cidade tinha uma população menor, a vida que eu levava não tinha nada a ver com o que eu vejo nas séries que gosto.
Embora houvesse coisas que, provavelmente, quem cresceu na cidade grande não viveu - como todo mundo se encontrar no baile de carnaval, no jogo de basquete ou no Picanha (um bar famoso da cidade) - naquela época esse bucolismo não me encantava muito. Eu queria mesmo era estar entre os prédios espelhados da avenida Paulista, andar de metrô e ir pra baladas. E assim eu fiz quando vim morar em São Paulo.
Hoje, aos 42 anos, me pego com vontade de uma vida mais interiorana. E quando assisto a séries como Doces Magnólias, fico com mais vontade ainda. Não que o cosmopolitismo não caiba mais em mim. Mas acho que, no fundo, ainda guardo muito daquela menina do interior, que gosta de dormir e acordar cedo, almoçar por volta do meio-dia, terminar o dia jogando água nas plantas, assistindo uma novela na TV e lendo na cama antes de dormir.
Mas como boa jornalista - e com uma dose cavalar de pé no chão - , invoco a música do Paralamas pra me lembrar que, provavelmente, a vida nas pequenas da cidade da vida real nada tem a ver com aquela da série. Afinal, a vida não é filme…
História real: uma microchocolateria em Santo Antônio do Pinhal
Jean François Daniel é francês e dono da chocolateria Uma Doce Revolução em Santo Antônio do Pinhal, na Serra da Mantiqueira. Lembrei muito dessa história enquanto escrevia essa newsletter porque, em duas entrevistas, Jean me trouxe uma dose grande de realidade falando sobre como o Instagram glamouriza a “vida na roça” e o “trabalho artesanal”. Ele ama o que faz, sente-se realizado, mas faz questão de dizer que dá muito trabalho levar essa vida e esse negócio e não são poucos os momentos em que dá vontade de parar. Qualquer semelhança com a vida não é mera coincidência, né? Bora voltar lá pra música Ska (a vida não é filme, você não entendeu…)
A história foi contada no Projeto Draft. Pra quem quiser ler, esse é o link.
PARA VER E LER
Pra quem quiser mergulhar nesse universo das histórias de cidade do interior, deixo 3 dicas
Doces Magnólias
A série acompanha as histórias de 3 amigas - as magnólias - na pequena cidade de Serenity. Disponível na Netflix
Chesapeake Shores
Essa série acompanha o retorno de Abby O'Brien para a pequena Chesapeake Shores, onde vive sua família e muitas histórias do passado. Disponível na Netflix.
Piquenique na Provence
Esse é um livro da vida real. A escritora e jornalista Elizabeth Bard conta como foi a sua mudança de Paris para uma vila na Provence, grávida e com o propósito de abrir uma sorveteria com o marido.
Até a próxima.
Maisa.