#NDA1 - Um ano sem ele
É pura coincidência a primeira edição desta newsletter que eu inventei nas minhas férias ser publicada no dia exato em que faz um ano que meu pai morreu: 10 de janeiro.
Eu havia planejado outro assunto, mas quando me dei conta da data resolvi compartilhar algumas reflexões.
Meu pai morreu em 10 de janeiro de 2021, depois de passar quase 20 dias internado. Ele teve uma obstrução intestinal, precisou fazer uma cirurgia e teve complicações na recuperação. A última semana foi na UTI, entubado.
Esse momento do hospital foi bem duro. Mas é aquela história: quando a situação difícil se apresenta, a gente se vira nos 30 pra enfrentar. E não é nada fácil ver a pessoa que você ama sofrendo, lutando e, aos poucos, indo embora. Não há muito o que fazer a não ser aceitar e enfrentar (e chorar quando der vontade).
Curiosamente, refletindo sobre esse ano de luto, concluí que não foi mais difícil do que todos os outros anos que vivi com medo desse momento. Porque sempre que pensava na morte do meu pai, eu me apavorava. Talvez por medo de não aguentar e, principalmente, por medo de me arrepender de algo que eu não tivesse feito. Era angústia e sobressalto, que também se fizeram presentes naquela semana de UTI, quando todas as manhãs eu ia ouvir o que o médico tinha a dizer.
E aí, quando o telefone tocou naquele domingo à noite pedindo a presença da família no hospital, eu acho que já estava preparada. Foi fácil? Não. Mas tenho que admitir que foi mais fácil do que lidar com a angústia e o medo que fizeram parte da minha vida durante anos. E, sim, eu tenho achado isso bem esquisito.
Nesse um ano teve lembrança, teve sonho, teve leitura interrompida quando a história me emocionou, teve herpes zoster por causa do estresse e teve aquela função de mexer nas coisas dele pra guardar, doar, jogar fora, vender. Função, aliás, que achei bem ruim porque me senti invadindo a privacidade dele e, ao mesmo tempo, descobrindo o tanto de coisa que meu pai tinha e eu não fazia a menor ideia do que era ou pra que servia.
Essa imagem é de parte da oficina do meu pai . Imagina como foi pra 3 mulheres que não entendem nada de oficina se desfazer disso....
Se eu tiver que usar esse 10 de janeiro pra fazer um balanço desse luto, não posso dizer que foi absurdamente difícil, mas foi muito reflexivo e me levou a entender, descobrir e aceitar algumas coisas. Só que isso fica pra uma outra news.
A moral da história, se é que ela existe, é a boa e velha dica de aproveitar o momento. É isso que vai fazer diferença lá na frente, quando alguém se for.
#DICA
Um livro que me acompanhou durante toda a internação do meu pai foi “Quando tudo se desfaz”, da Pema Chodron. Eu já havia lido e li novamente porque, pra mim, funciona como um alento, como se eu estivesse ouvindo conselhos e como se eu não estivesse sozinha.
Sou apaixonada por esse livro e recomendo demais pra quem está se sentindo perdido, angustiado, precisando de um ponto de apoio. É um livro de uma monja e, portanto, tem base no budismo. Mas considero que os ensinamentos ali são absolutamente distantes de religiões e praticáveis por qualquer pessoa (que queira, claro).
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