#NDA 2 Por que a gente ama casa antiga, mas não quer morar em uma?
Foram 13 anos ininterruptos morando em uma casa antiga em Franca, interior de São Paulo: a casa era dos meus avós, ficou para o meu pai e nós a vendemos em meados de 2021, depois que ele morreu.
Lá na infância, eu era indiferente sobre morar em casa antiga. Nunca liguei pros ladrilhos hidráulicos do banheiro ou do alpendre (eu nem sabia o que era um ladrilho hidráulico) ou para os caquinhos vermelhos na fachada. Mas sempre amei o alpendre.
O alpendre era a parte mais bonita da casa
Até que envelheci e me tornei uma apaixonada por casa antiga. Não necessariamente aquela da minha infância. Embora, talvez, no íntimo, isso tenha a ver com o olhar que carrego até hoje para as casas antigas. Eu amo fotografar casa antiga pela cidade. É o que mais tem no meu rolo de câmera.
E cada vez que posto uma foto destas casas aparecem comentários do tipo “que linda”, “parece casa de vó”, “amo essas casas”.
Como eu acompanho alguns perfis no Instagram que postam fotos de casas antigas, acabo zapeando pelos comentários quando aparece aquele antes e depois de quando a casa é demolida. É curioso como aparecem muitas pessoas dizendo “que dó”, “vivemos em um país que não preserva o patrimônio”, “a ganância das construtoras vai acabar com a cidade” e por aí vai.
Daí a pergunta: se tanta gente ama casa antiga, porque não conheço ninguém que more em uma? Nem mesmo eu, que assinei da venda da casa antiga da família, fui a favor da compra de um apartamento e não me arrependo.
Não é uma resposta simples. Mas acho que vale a reflexão.
Sou daquelas que tem dó de ver uma casa linda ser demolida. Mas sempre penso um pouco no lado de quem vendeu.
Deixo a seu critério avaliar o que é mais bonito nessa transformação de cenário
A manutenção de uma casa é sempre mais trabalhosa do que a de um apartamento. Tem uma questão de segurança e tranquilidade importante, embora eu ache que não seja crucial. Na época que essas casas foram construídas, a vida era diferente, as necessidades eram outras, as pessoas não viajavam tanto e, muito provavelmente, sempre tinha alguém em casa. Hoje, homens e mulheres trabalham fora, as pessoas viajam muito mais e as casas acabam sendo mais vulneráveis.
Além disso, quando uma construtora se interessa por comprar uma casa antiga (e não foi o meu caso, antes que alguém ache que eu estou montada na grana), a grana costuma ser tentadora.
Não consigo fazer a boa samaritana e dizer que o dinheiro não é importante ou mesmo definidor. A depender da proposta, é irrecusável. Você pode seguir morando bem em outro lugar - mesmo não sendo uma casa antiga - e ainda ter uma grana guardada.
Tenho a tentação de criticar quem vende uma casa sabendo que ela vai ser demolida (até porque, em geral, a casa não vale nada, apenas o terreno). Mas quando paro pra pensar, imagino que não deve ser fácil recusar.
A solução talvez seja ter incentivos para que essas casas sejam mantidas de pé, como guardiãs da memória e da beleza de uma cidade. É uma grande ilusão achar que as pessoas vão manter uma casa antiga conservada só porque elas gostam. Isso acontece raramente. A praxe é buscar o melhor custo benefício. E é nesse momento que entram os incentivos. Não sei quais seriam - redução de imposto? isenção de alguma taxa? - mas acho que é um pouco função do estado ajudar a manter essa memória das cidades de pé.
Ouso dizer que uma cidade com casas antigas é muito mais bonita do que as cidades sem elas. Mas talvez a receita do progresso esteja em saber mesclar o antigo e o novo em cidades mais inteligentes e boas para todo mundo.
#Dica
No Instagram tem vários perfis focados em casas antigas. Gosto bastante destes aqui.
Por hoje, fico por aqui.
Até a próxima
Maisa.