Guarda-chuva no modo sombrinha
Acabou o Verão e começou o Outono, minha estação predileta. Em tempos normais, é estação de manhãs e noites frescas e tardes quentes, porém em uma temperatura agradável.
Pra me despedir do Verão, a estação que eu mais odeio e menos espero, uma pequena homenagem ao guarda-chuva, esse acessório trambolho que pode ser bem útil sob o sol.
Estava caminhando sob um sol escaldante e pensando no quanto odeio o calor. Mas como prometi, há alguns verões, que não reclamaria mais (tanto) do calor, tentei pensar em outra coisa, o que foi impossível naquele momento. E aí, em uma conversa com uma amiga que também não gosta do calor, mas é educada demais para dizer que odeia, ela me contou que anda com o guarda-chuva aberto nos dias ensolarados e que isso faz muita diferença para quem está caminhando sob o sol.
Confesso meu ceticismo em relação ao fato de que abrir um guarda-chuva poderia aliviar o calor, mas quis tirar a prova dos nove e, em um dia de sol quente, usei o guarda-chuva sob o sol. Preciso dizer que a amiga tem razão. Ele cumpriu bem a sua função de sombrinha. Você ainda pode suar e se sentir cansada (afinal, é verão!), mas aquela sensação de que você está sendo queimado vivo diminui muito. E isso já é um ganho para quem gosta (e precisa) caminhar.
Só tem um problema: todo mundo te olha quando você está andando pela rua com um guarda-chuva aberto em um dia de sol. Eu fiquei incomodada com isso. Me senti um frango de padaria, ou um cachorro engraçado na vitrine do Pet Shop.
Curiosamente, o guarda-chuva é um acessório que foi criado como proteção do sol. Era, na verdade, um guarda-sol. Sem impermeabilização, não tinha a menor condição de proteger da chuva, evento raro no Egito Antigo, onde surgiu por volta de 1.500 a.C. Foi na China que o guarda-sol virou guarda-chuva, ainda como um acessório usado pela nobreza. Quando chegou na Grécia e na Roma Antiga, era visto como um luxuoso acessório feminino. Após a queda do Império Romano, o uso de guarda-chuva desapareceu da Europa e só voltou com o Renascimento, ainda como um acessório da nobreza e da realeza.
Quem ajudou a popularizar o guarda-chuva foi o comerciante inglês Jonas Hanway, no final do século 18. Ele é tido como o primeiro homem a aparecer em público carregando um guarda-chuva em quase todas as ocasiões. Foi muito ridicularizado, mas abriu caminho para o guarda-chuva cair no gosto popular. Na primeira metade do século 20, o guarda-chuva foi aperfeiçoado, com a versão de bolso e a abertura automática.
Hoje em dia, embora seja um acessório analógico, tem muita tecnologia envolvendo o guarda-chuva – como proteção solar e até estrutura para suportar ventos e tempestades. Ainda assim, ele está no rol dos acessórios banais do dia a dia. É o que chamo de acessório-trambolho, que pesa na bolsa, é incômodo de carregar, vira com o vento, às vezes quebra no meio da rua e só nos deixa com a opção de jogá-lo na primeira lixeira que aparecer.
São “contras” que lutam com um único “pró” - proteger da chuva – que torna o acessório absolutamente indispensável. Em algum momento da vida, alguém vai precisar de um. Não há quem não pense “esqueci o guarda-chuva” quando os primeiros pingos começam a cair e o que se avista, no céu, é o prenúncio de um dia molhado. Até quem anda de carro sente falta do guarda-chuva para fazer os trajetos entre o carro e o destino final e vice-versa. Não é à toa que basta cair um pingo do céu para surgirem, do nada, os vendedores ambulantes de guarda-chuva na saída do metrô.
Guarda-chuva na chuva é óbvio. O que me intriga é porque, afinal, a gente insiste em deixar o dito-cujo em casa nos dias de sol, já que vivemos em um País Tropical abençoado por Deus, em que o calor e o sol são predominantes e escaldante? Só pode ser por falta de costume e por vergonha. Porque é bem esquisito usar algo pensado pra proteger da chuva quando não está caindo uma gota de água do céu.
Só quem faz isso são as senhorinhas, sábias mulheres que se protegem sem se preocupar com o julgamento alheio. Elas são o Jonas Hanway do momento. Talvez, daqui alguns anos, quando as pessoas se tocarem que esse simples acessório pode fazer diferença em um dia quente, a gente se lembre delas como visionárias do século 21.
Canções para o verão passar depressa
Eu nunca compartilho minhas playlists no Spotify porque acho que ninguém vai gostar. Basicamente só tem música brasileira, tem algumas coisas consideradas bregas por aí (me julguem) e os nomes são super criativos: nova, novíssima, mais uma rsrsrs.
Na verdade, faço playlists pra mim, pra que eu ouça nas caminhadas, corridas ou treinos sozinha. Mas há alguns anos fiz uma playlist chamada Canções para o verão passar depressa, justamente uma homenagem a esse meu asco pelo calor. Resolvi compartilhar aqui.
Canções para o verão passar depressa.
Até a próxima
Maisa.